domingo, 26 de abril de 2009

Ínsula das Carvalheiras: à espera da musealização

As ruínas das Carvalheiras (também conhecidas por Ínsula das Carvalheiras ou Casa das Carvalheiras) estão classificadas como Imóvel de Interesse Público. Ficam situadas em terrenos que são propriedade do Município de Braga, que é o curador do achado, mas já estiveram sob a responsabilidade do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa.
Há muito que está decidida a musealização do espaço, seguindo o modelo existente nas Termas da Cividade, no entanto, segundo Sande Lemos, antigo presidente da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (UAUM), o projecto que foi remetido à tutela terá sido chumbado. O responsável pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Braga (GACMB), Armandino Cunha, confirma essa situação, embora sublinhe que, em 2008, foi feita nova candidatura aos fundos comunitários de que ainda não há decisão. O problema é assumidamente financeiro, pelo que a autarquia pretende saber se a musealização do achado vai ou não ser co-financiada. O espaço, bem no centro da cidade de Braga, embora delimitado por rede, não dispõe de nenhuma placa de identificação.

De momento as visitas à Casa das Carvalheiras estão condicionadas, como pudemos constatar no local, e só podem ser feitas depois de contacto prévio com o GACMB. A entrada que faz a ligação à estrada está tapada, embora a forma rudimentar como foi efectuada a vedação se confunda com uma obra de construção civil do centro da cidade.

Não existe qualquer placa que identifique o achado arqueológico, apesar de todo o recinto estar vedado por rede malhasol. O acesso é feito pela mesma via de um parque de estacionamento privado contíguo, de onde é possível observar o espaço da ínsula. O verde da erva que cresce com abundância no local quase que cobre por completo as ruínas. As imagens que recolhemos mostram a grandeza do espaço, embora não se consiga vislumbrar toda a riqueza monumental e arquitectónica destacada em várias fontes por nós consultadas e que citamos nesta reportagem.
O porteiro do referido parque de estacionamento disse não se lembrar de qualquer visita organizada à Casa das Carvalheiras. Quando lhe perguntámos se era possível o acesso ao interior das ruínas, no sentido de obter um registo fotográfico, indicou-nos um portão existente na vedação, também construído em rede malhasol, sugerindo que fôssemos verificar se estaria aberto. Afinal, não estava. Por isso, as fotos foram tiradas através da rede e por cima do muro, na entrada principal, junto à rua.

O aspecto de abandono do espaço é tema de conversa em Braga. Gonçalo Cruz, cronista do Avenida Central, um blogue de referência da cidade, escrevia em Novembro de 2008 que “as ruínas da Insula das Carvalheiras, em progressiva degradação, ocupam um espaço que permite uma visualização ampla das ruínas, porque se estendem por um quarteirão inteiro da cidade romana. Mas são também um exemplo de um sítio classificado onde equipas de arqueólogos trabalharam intensivamente, na perspectiva de uma musealização de todo o espaço, que, até à data, não se fez...”.
Segundo Armandino Cunha, a Câmara de Braga, a par de outras instituições, como a UAUM, querem dar uma solução para o achado: "Se o espaço não for musealizado – e isso está dependente do eventual financiamento -, há outras formas previstas, como a criação de janelas museológicas, enterrando os vestígios". É que, a partir do momento que se põe a descoberto uma ruína que esteve enterrada centenas de anos, "há que preservá-la num ambiente ideal e, se isso não for possível, proceder ao seu enterramento".
O certo é que a musealização da Casa das Carvalheiras está dependente de um problema financeiro. O sítio está vedado e "minimamente vigiado". O responsável pelo GACMB assume que "não tem as condições ideais", embora saliente "serem as possíveis" e "bem melhores daquelas que existiam há alguns anos atrás" em que, por falta de vedação, era frequente ver pessoas com detectores de metais à procura de moedas romanas...

O acaso
Segundo o sítio da Geira, terá sido um “feliz acaso” que permitiu a conservação de um quarteirão intacto da cidade romana e que se revelou de um enorme alcance científico para a compreensão da malha urbana de Bracara Augusta.
A identificação do local ocorreu em 1983, com a descoberta de muros pertencentes a uma habitação e duas ruas. Foi depois totalmente delimitada uma habitação romana que ocupava a totalidade de um quarteirão residencial.
Para além de ter permitido definir um módulo de construção (urbanismo), permitiu, pela primeira vez, recuperar a planta integral de uma casa romana, caracterizar fases de construção, recolher elementos de arquitectura e fornecer uma sequência de materiais para os cinco séculos de ocupação romana.

O espaço
Em terrenos livres existentes no interior de um vasto quarteirão, situado a Oeste do campo das Carvalheiras, foi posto a descoberto, na década de 80, parte de um bairro residencial romano. As escavações do local, da responsabilidade da UAUM, iniciadas em 1983, permitiram trazer à luz do dia uma ínsula inteira, limitada por quatro ruas que se cruzam e vestígios de mais duas (a Sul e a Oeste).
Os limites desta zona foram parcialmente destruídos: a Norte ter-se-ão desmontado os muros para erguer, numa época tardia, a muralha romana que coincide com a actual Rua da Cruz de Pedra; a Sul a construção de um poderoso muro de suporte aproveitou, também, a pedra romana das construções aí existentes; a Oeste, conservaram-se apenas os alicerces do pórtico que limitaria uma outra ínsula, cujos vestígios foram destruídos, conforme se testemunhou nas escavações aí realizadas em 1987, pois o terreno estava revolvido em profundidade; a Este, são ainda necessárias escavações para definir, com rigor, a existência de estruturas conservadas e soterradas.

Cronologia
A Casa das Carvalheiras foi erguida na época flávia (último quartel do séc. I). O primitivo conjunto residencial corresponde a uma casa de átrio e peristilo.
A habitação desenvolve-se em duas plataformas distintas, que solucionam o pendor natural da vertente. O desnível entre os dois tabuleiros é marcado por uma parede interna, que separa a plataforma mais alta, onde se situa o átrio e compartimentos envolventes, da plataforma mais baixa, que se desenvolve em torno do peristilo. O desnível exterior seria vencido por pequenos lances de escadas, nos pórticos e mesmo nalgumas ruas de maior inclinação.
Tudo indica que a casa das Carvalheiras se tenha mantido ocupada, ainda que numa área muito mais restrita, até ao séc. V.

Mais informação sobre a Ínsula das Carvalheiras disponíveis no menu Multimédia.


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