segunda-feira, 11 de maio de 2009

Obras no antigo edifício dos Correios revelam achados arqueológicos

O antigo edifício dos Correios de Braga, localizado na Avenida da Liberdade, vai dar lugar a um centro comercial. As obras de reconversão estão em pleno desenvolvimento e, como acontece em Braga, sempre que se promovem intervenções em património edificado ou em ligações rodoviárias, foram feitas escavações arqueológicas prévias. A Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (UAUM) acompanhou o processo a par e passo e produziu dois relatórios sobre os vestígios descobertos. Face à importância do que se encontrou, propôs-se a musealização 'in situ'.

Para Manuela Martins, presidente da UAUM (a quem já solicitámos várias vezes uma entrevista, embora sem sucesso), citada na edição do passado dia 17 de Abril do jornal Correio do Minho, na zona do antigo edifício dos Correios “foi descoberto nos últimos 16 meses um grande legado arqueológico”.
Aquela responsável sublinha que o futuro centro comercial “será um local diferente dos outros com dois espaços de ruínas visitáveis. Além disso é a prova que os sítios têm história que merece ser contada e que o passado e a memória podem viver com um espaço mais moderno e sofisticado”. Manuela Martins admitiu que “foi uma notável experiência”, sendo possível “devolver à cidade mais uma página da sua história”.

Na mesma publicação, o presidente da Câmara de Braga, Mesquita Machado, salienta que “este é mais um exemplo em Braga em que é possível conciliar a história com o desenvolvimento” e espera que “este bom exemplo sirva de incentivo para outros empreendimentos”.
Estamos em condições de adiantar que, por causa dos achados arqueológicos encontrados, houve necessidade não só de fazer escavações extensíveis, mas de mudar alguns projectos para se compatibilizarem com o surgimento das ruínas.

Sobre o que foi descoberto no local, podem ler-se os relatórios que a UAUM produziu sobre o assunto (aqui e aqui), bem como as imagens do que foi descoberto (aqui e aqui).

As escavações
A ampliação da zona de intervenção arqueológica promovida pela UAUM permitiu pôr a descoberto o traçado da denominada Via XVII (romana), que se encontra articulado, ora com a necrópole romana, identificada nos trabalhos de sondagem anteriores, ora com a implantação de uma área artesanal relacionada com a produção vidreira.

No que concerne à área de necrópole, a grande maioria das sepulturas encontradas até ao momento corresponde a incinerações em cova simples, tendo sido inventariado um total de 17 urnas funerárias.

Paralelamente, identificou-se uma extensa área artesanal associada à produção de vidro. Trata-se de um espaço intensamente ocupado, que retrata uma dinâmica actividade económica associada ao estabelecimento de uma oficina vidreira.

Críticas
Num encontro recente promovido pela CDU, em que a questão do Património foi discutida, vários foram os reparos feitos ao processo de reconversão do edifício dos Correios. Luís Tarroso, um dos fundadores do Estaleiro Cultural Velha-a-Branca, por exemplo, sublinhou que aquele edifício era um exemplar do património recente do centro da cidade de Braga e lamentou o facto de apenas as paredes terem ficado de pé: “É prática corrente da Câmara de Braga este tipo de intervenções. Estes edifícios, embora não muito antigos, fazem parte do património contemporâneo da cidade. Lembro-me, por exemplo, que os antigos Correios tinham uma escadaria que, a meu ver, poderia ser integrada no futuro projecto. Mas também ela foi demolida. Arrasa-se, assim, aos poucos, com a memória da cidade. E, ficarem só algumas paredes, é pouca coisa”.

Miguel Bandeira, docente universitário e membro da ASPA - Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural referiu que o problema de Braga “é a falta de criação de património contemporâneo”, o que constitui “uma grande frustração”. Neste rol não incluiu a construção prevista para o edifício dos antigos Correios, embora afirmasse que, no que respeita ao Urbanismo, em Braga, não sabe “qual a fronteira entre a perversidade e a ignorância”.

Em entrevista ao nosso Projecto, o vice-presidente da Câmara de Braga, Nuno Alpoim, defende as mesmas ideias de Miguel Bandeira, quanto à criação de património contemporâneo, exemplificando com o novo Estádio Municipal, embora essa não seja, exactamente, a ideia do académico.

Nuno Alpoim observa que, por um lado, é necessário preservar o património mas, por outro, há o direito e o dever de o criar: “Nós não podemos ter uma fixação apenas nos elementos notáveis do passado, embora isso seja importante, mas esta geração também tem o direito e o dever de produzir património”.
Sobre a intervenção que está a ser feita neste espaço, o vice-presidente da Câmara de Braga apelida-a de "obra emblemática" (veja o vídeo).

O futuro centro comercial
O antigo edifício dos Correios, cuja frontaria está voltada para a Avenida da Liberdade, já está decorado com 'outdoors' do futuro centro comercial.

Vai chamar-se “Liberdade Sreet Fashion” e vai ser composto por 20 lojas, dois restaurantes, um “supermercado gourmet”, 20 apartamentos, serviços (clínicas e escritórios, com 2 mil metros quadrados) e estacionamento público com 200 lugares de estacionamento. É anunciado pelos responsáveis pela construção, o “Grupo Regojo”, como um empreendimento inovador em Portugal.
Mais informações sobre este assunto no menu Multimédia. Para ver o espaço no mapa, clique aqui.

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