terça-feira, 19 de maio de 2009

Uma visita às Sete Fontes

Para acompanhar a leitura, pode ouvir os sons captados nas Sete Fontes:

O acesso às Sete Fontes faz-se através de uma estrada lateral ao quartel militar, a mesma que serve para chegar ao convento franciscano de Montariol. Passados cerca de 100 metros, finda a parede caiada do quartel militar (há que olhar para o lado esquerdo para confirmar), vira-se à direita e, através da Travessa Monsenhor Ferreira da Silva, chega-se à Rua Nuno de Morais, onde se estaciona o carro, junto a um bairro composto por prédios com mais de 20 anos. Estamos no lugar de Areal de Cima, na freguesia de S. Victor.

Logo ali, a céu aberto, entre duas paredes de granito, está uma conduta de água do complexo das Sete Fontes, cujo acesso, porém, está vedado por uma porta de ferro. Segue-se uma espécie de muro, também de granito, incrustado no solo, de que só se vê a parte de cima, ao nível do chão, junto aos prédios. De súbito, inflecte-se para o lado direito e entra-se, por assim dizer, no mato. Um imenso verde não deixa prever que, dali a mais de um centena de metros, está uma construção bem definida, pertencente ao complexo das Sete Fontes: a primeira de duas “minas gémeas do Dr. Alvim”. Mais à frente, está a outra.

Devido à forte vegetação, essencialmente composta por erva e fetos, quase que não existe campo de visão de umas minas para as outras. Também não se vislumbra qualquer placa que identifique, quer o complexo, quer cada mina individualmente.

O terreno é a subir, o que se percebe, já que a água utiliza a gravidade para chegar ao destino que, até 1913, constituía o abastecimento público da cidade. Por isso, Luís Costa, da Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural (ASPA), considera esta “a obra máxima do abastecimento de água” em Braga.

A terceira é a “Mina dos órfãos”. Seguem-se a “Mina do Dr. Sampaio” e a “Mina do Dr. Nozes”. A última é a do “Dr. Amorim". Todos os nomes estão associados a proprietários de quintas. Há muito que falta uma mina. Uma mulher que andava a passear o cão no percurso das Sete Fontes disse-nos que terá sido roubada e levada para o concelho de Amares, “pedra sobre pedra”. Não foi o único roubo. Todas as minas tinham um brasão. Neste momento, resta apenas um e que adorna a “Mina do Dr. Amorim”.

A meio do percurso, vêem-se as obras do hospital. Um volume imenso de terra, em aterro, faz uma espécie de parede com o perímetro das Sete Fontes. A última mina está mesmo dividida ao meio pela vedação pertencente ao hospital. Ali bem perto, circulam camiões e máquinas pesadas.

Ricardo Silva, arqueólogo e coordenador-geral da JovemCoop, que foi o nosso cicerone, sublinha que as galerias subterrâneas, nomeadamente as das minas mais elevadas, poderão ter sido danificadas devido à enorme pressão que o solo sofreu, por causa do peso repentino que sobre elas foi exercido: “Estas minas estiveram aqui séculos sem que ninguém lhes mexesse e, de repente, tiveram que suportar todo este peso em cima. Era previsível que claudicassem”. De facto, assim foi. Uma das galerias que faz a ligação à última mina não pode ser visitada, uma vez que está escorada, por determinação da Direcção Regional de Cultura do Norte.

Esta entidade, citada pelo jornal Público (link directo não disponível), garantiu que, logo que tomou conhecimento dos trabalhos realizados sem acompanhamento arqueológico, interveio para menorizar o possível impacto sobre o património.

Criaram-se, então, duas equipas alargadas de arqueólogos para escavar e estudar os dois sítios sinalizados: um povoado da Idade do Bronze e as estruturas identificadas como pertencentes à época romana.

O certo é que já tinham sido provocados muitos danos em zonas onde foram identificados vários tipos de achados. Um óculo de respiro de uma mina associada ao complexo monumental foi também destruído durante as obras. Vários moradores de S. Victor terão ficado sem água nos poços domiciliários, devido à obstrução de algumas condutas.

O complexo arquitectónico
As Sete Fontes são um sistema de captação e condução de água do século XVIII (entre 1744 e 1752), construído na mesma época do Aqueduto das Águas Livres de Lisboa. São só a parte mais visível, com seis estruturas edificadas à superfície, já que o sistema é composto por pontos de junção das minas de água, estruturas edificadas aéreas, galerias subterrâneas e condutas em pedra que se estendem, no seu conjunto, por cerca de 3.500 metros.

Veja aqui o vídeo da visita às Sete Fontes e o respectivo mapa, ou aceda a ambos através do menu Multimédia, onde ainda pode ver as diferentes opiniões sobre o complexo arquitectónico.

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